Grupo de alunos negros na medicina se reúne para alertar sobre expressões racistas

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Estudantes de medicina no exterior montam grupo majoritariamente de pessoas que se declaram negras. O objetivo foi alertar aos demais alunos que expressões racistas contribuem para permanência de desigualdade não só no ambiente universitário onde a maioria é branco. O racismo estrutural, ressaltam, também tem reflexo na saúde da população negra como o agravamento de transtornos de personalidade.

A oportunidade de revelar os impactos das diferenças raciais foi durante o desenvolvimento para uma apresentação oral de trabalho na disciplina de Psicologia na Saúde. Os estudantes negros usaram sob o tradicional jaleco branco da profissão a cupalana, tecido característico de países da África.

“Ter um grupo negro numa faculdade de mecina é histórico. Os grupos formados são sempre majoritário branco. Sempre foi assim. Mudamos essa, digamos, lógica”, apontou o estudante Renan Gouvêa.

Sobre o grupo
Ao todo foram nove estudantes de medicina que se reuniram para montar um grupo de pessoas que se identificam como negro. Durante a apresentação os alunos convidaram os demais estudantes a serem ‘remédio’ da sociedade.

“O futuro médico tem a responsabilidade de entender como o racismo, escancarado e o estrutural, também reflete em seus pacientes negros. É o futuro profissional protagonizando a mudança. Combater o racismo é entender que ele existe”, explicou Davi Tiago, estudantes de medicina.

Provocação positiva
Durante a apresentação sobre Paranóia os alunos negros mostraram que o comportamento da sociedade faz o negro ser perseguido quando entra em lojas de grife e isso não é uma ‘paranóia de perseguição’ e sim uma realidade racista.

Os alunos de medicina negros mostram também que a data da apresentação do trabalho oral foi durante o mês de maio de 2024, que é o calendário cristão. “E mesmo assim, infelizmente, estamos falando de racismo quando não deveria existir nos dias de hoje”, comentou Bianca.

Remédio de todos

Os estudantes do grupo negro pedem para evitar o uso de frases como “Inhaca”, “Meia Tigela” e “Fazer pelas coxas”, entre outras expressões racistas. “Cada palavra ou expressão revela racismo enraizado. A consequência disso é o racismo estrutural em que o negro, por exemplo, não tem as mesmas oportunidades no mercado de trabalho que o branco”, explicou a aluna de medicina Bianca Oliveira, que revelou já ter recebido o pedido de colegas de classe e de professores para ela amarrar o cabelo com o argumento de que estava atrapalhando.

“Meia Tigela”
Usada para referir-se a algo sem valor ou medíocre, no entanto, a expressão surgiu há muito tempo, envolvendo o sofrimento dos negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. A punição nesses casos era receber apenas metade da tigela de comida, além de serem apelidados de “meia tigela”. Em vez disso, pode-se dizer simplesmente “sem valor”.

“Fazer pelas coxas”
A expressão “feito nas coxas” é usada para indicar algo feito de maneira apressada e descuidada. Embora sua origem não seja clara, algumas teorias a associam ao trabalho escravizado, o que perpetua uma ideia racista. Mas essa origem racista não é totalmente aceita e alguns estudiosos a contestam. Apesar disso, é aconselhável substituir essa expressão por termos como “feito de maneira apressada” ou “feito sem cuidado”.

“A coisa tá preta”
É uma expressão que sintetiza uma série de frases racistas associando negativamente as pessoas negras a situações difíceis. Ela é usada para descrever problemas complexos ou situações ruins. É importante substituí-la por frases como “a situação está difícil” para evitar o uso de linguagem racista.

“Denegrir”
De origem latina, a palavra “denegrir” significa “enegrecer”, mas seu uso atual está associado a manchar ou sujar algo. Essa associação cria a ideia de que tornar algo negro é negativo e precisa ser evitado, reforçando o preconceito de ligar pessoas negras a coisas ruins. Além disso, quando algo é “denegrido”, a expressão implica que precisa ser limpo ou corrigido, o que perpetua o viés racista. Portanto, é aconselhável abandonar o uso dessa palavra e optar por alternativas como “difamar” ou “caluniar”.

“Doméstica”
Pessoas pretas eram tratadas como animais que precisavam de “corretivos”, serem “domesticadas”. O termo surgiu no século XVI, onde as escravas eram “domesticadas” através de tortura.

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